Não é necessário que façamos muitos esforços para percebermos o quanto o machismo encontra-se arraigado em nosso cotidiano, basta que olhemos para os lados: a mulher vivencia durante toda a sua vida violências morais, psicológicas e físicas por simplesmente estar na condição de mulher numa sociedade que não se cansa de subjugá-la.
A opressão da mulher não é uma especificidade da sociedade a qual pertencemos, mas uma construção histórica que se arrasta desde o surgimento da propriedade privada nas sociedades humanas. Embora o capitalismo alimente a opressão, não é dele que ela se origina.
Com o desenvolvimento da agricultura ainda nas primeiras sociedades humanas, a produção social passou a acumular excedente. É nesse ponto em que a propriedade privada surge, com a apropriação do excedente pelos homens que detinham a técnica agrícola. Surge então a necessidade de guardar e perpetuar essa propriedade para as gerações vindouras, através de algum mecanismo que possibilitasse o direito de algo que hoje denominamos de herança. Isso era impossível nos marcos do direito materno, já que as famílias eram formadas por grupos, clãs ou gens, onde só era possível reconhecer biologicamente a mãe, já que homens e mulheres relacionavam-se entre grupos e não entre indivíduos. O matriarcado é então, destruído e com sua dissolvição, a mulher passa a ocupar um lugar abaixo do homem nas posições sociais.
A família monogâmica patriarcal advém com a necessidade de perpetuar a exploração, pilar das sociedades baseadas na propriedade privada. Para sustentá-la ideologicamente e materialmente, os setores dominantes de cada sociedade se utilizam de opressões para “justificá-la”. A mulher nem sempre foi oprimida. Sua opressão é um produto histórico, fruto de determinadas demandas econômicas, políticas e sociais.
A emancipação da mulher é uma tarefa histórica. Por que não foi ainda alcançada, mesmo diante de milênios de desenvolvimento histórico? Entendemos que a resposta reside na origem da opressão da mulher. Se a mulher começou a ser oprimida a partir do advento da propriedade, como poderia a mulher emancipar-se nos marcos desta? Para nós, a emancipação da mulher é indissociável da emancipação humana. Se a condição de existência da propriedade privada é a exploração, como é possível pensar em emancipação com a vigência da exploração e, por conseguinte, da propriedade privada?
Isso não quer dizer que não lutemos por pautas democráticas que venham a melhorar em alguns aspectos as vidas das mulheres. O direito sobre seu próprio corpo, o combate diário ao machismo, a equidade de direitos são bandeiras necessárias à luta feminista cotidiana. Devemos ter no horizonte uma sociedade emancipada, mas sem esquecer de lutar para assegurar direitos civis, liberdades e elementos democráticos para as mulheres que podemos conseguir por dentro do capitalismo.
Trazendo a questão para a situação político-econômica atual brasileira, podemos verificar que essa batalha não tem ganhando a devida importância, mesmo que tenhamos elegido uma mulher para exercer o mais alto posto político do país: a presidência. Dilma até aqui não nos provou de que está disposta a lutar pelas mulheres.
O governo Dilma tem apresentado claras deficiências no trato da questão da mulher. As metas do projeto de creches públicas do governo federal são insuficientes e sequer estão perto de serem atingidas. O projeto Rede Cegonha, de suporte as gestantes, além de ser apresentar problemas em seu funcionamento, limita a saúde da mulher ao momento da gestação. Os projetos de saúde integral da mulher na rede pública de saúde continuam engavetados. Os debates sobre a descriminalização do aborto além de não avançar, retrocederam.
Não bastasse a impotência das políticas específicas para as mulheres do governo Dilma, ainda presenciamos os cortes de bilhões no orçamento da receita social a cada ano, o que afeta diretamente as mulheres trabalhadoras, que precisam dos serviços públicos. Para que possamos conseguir vitórias para as mulheres trabalhadoras é necessário que, diante desse governo, assumamos uma postura de enfrentamento. É no cotidiano das lutas que construiremos o combate ao machismo, aliado ao horizonte de uma nova sociedade, onde homens e mulheres possam ser seres humanos emancipados. Horizonte esse que o tempo nos mostra que é impossível ser visado pelas lentes de um governo que corresponde aos interesses das classes dominantes.
Ótimo texto! ;)
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